De longe, parece que você está no set de filmagem de “Nascido para Matar” (1987), do genial Stanley Kubrick. Rostos jovens empunhando armamento pesado. Tem capitão, tenente, recruta. Roupas camufladas. O cenário é uma fábrica desativada. Quando a ação começa, há correria, tiroteios e gente caída ao chão. Mas ninguém sai ferido de verdade. As metralhadoras cospem bolinhas de tinta.
Estamos no meio de jogo-treino do Grupo de Operações Rápidas (GOR) Paintball Milsim (military simulation) em um bairro da periferia de Jaú. É simulação, mas a adrenalina corre solta. Não há soldados, e sim operadores – como são chamados os jogadores – que praticam um esporte radical que cresce a cada dia no País. Esse grupo jauense, que surgiu há cinco anos, terá agora seu maior desafio pela frente, que é participar da Operação Cavalo de Aço-2015, apontado como o maior evento da modalidade real action (ação real) de paintball no Brasil e será realizado entre os dias 4 e 6 de dezembro, em Campo Grande (MS). Serão 24h ininterruptas de duração, com operações continuadas dentro de uma situação fictícia de combate.
Para representar bem o Município nesse evento reconhecido nacionalmente, é preciso bastante treinamento e dedicação ao esporte, afirma o capitão da equipe de Jaú, o modelista de calçados Juliano Rangel, 29 anos, que começou a praticar paintball há pelo menos oito anos. Foi neste ano, porém, que o time que ele capitaneia começou a jogar o Milsim, considerado pelos entusiastas como uma evolução do paintball mais “tradicional”. “Nossas missões se aproximam ao máximo da realidade do campo de batalha. É semelhante a um jogo de RPG (role-playing game, ou literalmente jogo de representação), com toda a preparação física e tática”, explica Rangel. Exemplo: se você for marcado com um “tiro” na perna durante o jogo, não poderá sair caminhando como se nada tivesse acontecido. Você será atendido pelo especialista médico, que aplicará uma dose de morfina e fará atadura (fictício, claro).
As missões do grupo são variadas, e podem ser ações como resgate de reféns, combate ao terrorismo, desarme de artefatos explosivos (cenográficos) e escola VIP, entre outras. O tempo da operação pode variar de poucos minutos a algumas horas. As simulações podem ser baseadas em eventos históricos, políticos, cinematográficos ou fictícios.
Vale ressaltar que para praticar a modalidade nesse nível de complexidade e conforme prevê a legislação brasileira é necessária comunicação prévia do jogo às autoridades de segurança pública – uma vez que o paintball é um esporte fiscalizado pelo Comando do Exército. Os marcadores (armas do paintball) devem ser registrados. “Não posso sair na rua desse jeito, todo equipado”, conta Rangel.
Controle
O GOR Paintball Milsim aposta na popularização da modalidade, especialmente porque é um esporte radical, mas considerado de baixo risco. “Prezamos pela segurança dos operadores. A pressão dos marcadores é bem controlada. A máscara de proteção é um item essencial e não pode ser retirada de forma alguma no campo de jogo”, afirma o capitão da equipe. Um pequeno hematoma, vez ou outra, é inevitável, ainda mais para iniciantes. Mas isso é superado logo que a adrenalina sobe, e o sangue passa a correr ainda mais rápido nas veias. Porque missão dada, parceiro, é missão cumprida.